O texto que conta essa história é nova, surgiu na internet no dia 12 de janeiro de 2014. Vários sites e blogs já postaram o texto nesse pouco tempo, e em apenas um deles a história já teve quase mil curtidas no Facebook em menos de cinco horas!
Ao que tudo indica o texto surgiu no site Jornal Ciência na manhã do dia 12 e junto a essa versão vinha uma imagem de duas mãos enfeitadas com a henna com bolhas enormes, o que podemos deduzir que seja da paquistanesa morta da qual o texto se trata.
A história
O texto - embora essa versão seja nova no Brasil - corre pela Internet desde Novembro de 2011 em fóruns de língua inglesa. Na versão original era muito mais alarmante, com avisos repetitivos e com trechos em caixa alta (com o Caps Lock ativado) e o culpado é um tipo de tinta para corpo chamada Party Mehndi Red Cone e que é facilmente encontrado no Paquistão. Também a versão de que o médico havia praticado a eutanásia na mulher é mudado e os responsáveis pela morte da infectada são os próprios pais da garota que lhe deram veneno.
Voltando à versão atual, lendo o texto podemos levantar as seguintes questões:
- Qual o nome da paquistanesa?
- Quando o fato ocorreu?
- Quais os inúmeros portais internacionais que divulgaram a notícia?
- Qual os nomes dos pais da mulher?
- Em que cidade isso ocorreu?
A corrente começa assim: "Uma paquistanesa estava prestes a se casar [...]". É importante dizermos que quase sempre a maioria dos hoaxes começa como "Uma pessoa estava fazendo aquilo [...]" ou "Ontem uma brasileira sofreu isto [...]", quase nunca dizendo o nome da pessoa em questão, usando um outro pronome para denominar o indivíduo. Geralmente se diz que a pessoa é de um local distante para dificultar ainda mais a confirmação da história. No caso em questão o local é o Paquistão, um país que se localiza entre o Oriente Médio e o sul da Ásia e que faz fronteira com a China e a Índia.
Seguindo com o texto, o próximo parágrafo diz que o médico Imran Ansari, do hospital Aga Khan relatou o caso e a partir daí o alerta surgiu. Mas relatou aonde? Infelizmente não temos a resposta.
Unidade do hospital Aga Khan em Karachi |
Pesquisando "Hospital Aga Khan" no Google descobrimos o site oficial da rede de hospitais com o mesmo nome e que possui unidades no Paquistão, Índia, Quênia, e na Tanzânia. No Paquistão as unidades se localizam na cidade de Karachi, que é a mais populosa do país e em Karimabad, no norte do Paquistão.
Agora, pesquisando sobre "Imran Ansari" na internet não encontrei nada sobre esse suposto médico, apenas citações desse nome em sites e blogs que apenas reproduziram a notícia sem mudarem sequer um ponto, e em um perfil no site Linkedin, só que dessa vez o sr. Imran é um arquiteto de soluções que trabalha no Lincoln Financial Group, que possui sede no estado norte-americano da Filadélfia. Pois é, nada a ver com um médico que trabalha em um hospital no Paquistão, né?
No site do Hospital de Olhos Moorfields, na lista de oftalmologistas do hospital é mostrado o perfil do Dr. Imran Ansari, que é um dos doutores de lá. Só que ele é um oftalmologista e trabalha em um hospital em Londres, não tem nada a ver com o - fictício - Imran Ansari citado na corrente.
Logo no próximo parágrafo é dito que o médico (provavelmente o fictício Imran Ansari) recomendou a amputação dos membros da mulher antes que os produtos tóxicos caíssem na corrente sanguínea da paciente e a matasse. Os pais não concordaram com isso e então resolveram pedir ao médico que aplicasse a eutanásia nela.
Não sabemos da onde o autor da corrente tirou essas informações, já que os únicos locais que dizem isso são os outros sites que apenas reproduziram a corrente sem postar nenhuma fonte. Vale lembrar também que o Paquistão é um país islâmico e um caso desses de eutanásia causaria o maior alvoroço na mídia local, provavelmente até na internacional. O que deve ter ocorrido nesse caso foi uma mudança da versão original que dizia que os pais teriam dado veneno à garota, como dito no começo desta postagem.
Logo no último parágrafo da história é dito que o "fato" foi divulgado por inúmeros portais em mais de 15 línguas. Que portais são esses? Também não sabemos.
Analisando toda a história descobrimos que este texto tem tudo para ser um hoax:
- Cita nomes de instituições para dar credibilidade
- A história se passa em um local distante
- Não cita fontes
- Cita nomes de pessoas que não existem
- Pede para ser repassado para o maior número de pessoas
Parte científica
É explicado mais à frente os efeitos e o que causa a reação alérgica à henna, que é uma planta cujo nome científico é Lawsonia inermis. De fato o risco do uso dessa tinta natural provocar alergias sérias é mínima, mas alguns fabricantes usam produtos químicos para dar uma coloração mais escura, que em excesso podem ser muito nocivos. Um exemplo desses produtos é o parafenilenodiamina, que antigamente só era misturado à henna em tinturas de cabelos. A ANVISA permite apenas 6% dessa substância química na fórmula, mas já foi encontrado misturas com até 20% dessa substância que é altamente alérgica, por isso sempre deve-se olhar a embalagem do produto e as informações nela contida para evitar futuras complicações. As reações alérgicas são diversas, desde bolhas e inchaço no local afetado à marcas permanentes e problemas na garganta.
Conclusão:
Texto meio-falso! A história é falsa, mas o aviso é real! Muitos fabricantes colocam produtos químicos em excesso nas tintas de henna e que podem causar reações alérgicas diversas.